E se ele tivesse me escolhido?
E se ele tivesse me escolhido? Não quero parecer tola, mas na minha cabecinha confusa, nossas vidas seriam perfeitas.
Íamos acordar cedo, mas demoraríamos muito para levantar da cama. Transaríamos, veríamos televisão, e quando eu ficasse entediada, como de costume, sairíamos para ver o mundo lá fora, mas logo iriamos nos arrepender, porque nosso próprio mundinho sempre foi muito melhor.
Faríamos piadas sobre tudo e todos. Dos nossos amigos, dos nossos chefes, da nossa rotina. Ele sempre ia dizer o quanto o meu pé é enorme, mas que ainda assim meu dedão era a coisa mais linda que ele já viu na vida, só para me irritar.
Nós nunca cozinharíamos. Comer fora sempre seria a primeira, e talvez única, opção. E eu ia continuar tentando com que ele parasse de comer tantas besteiras, e vivesse de maneira mais saudável.
Ele traria chocolates quando brigássemos, e me abraçaria quando eu estivesse no meio de algum surto, sabe-se lá por qual motivo. Ele olharia no fundo dos meus olhos, e diria o quanto eu sou espetacular. E eu só conseguiria pensar no quanto ele é lindo, no quanto eu sou sortuda, no quanto eu sou feliz.
Ele me levaria para jogar pôquer com os amigos dele e, secretamente, teríamos códigos entre a gente, e sempre ganharíamos. Não que os amigos dele não soubessem, claro.
Eu tentaria fazer ele entender que ele era sensível demais por ser pisciano, e ele tentaria me fazer assistir todas as temporadas de Games Of Thrones.
Eu me abriria para ele como nunca me abri para ninguém. Espere. Eu fiz isso. Eu me abri para ele como nunca me abri para ninguém. Contei que tinha medo de tubarões, de morrer, de ser um fracasso total. Contei até sobre o medo esquisito que eu tinha do Blue Man Group. Homens pintados de azul não poderia ser algo bom. Ele ria.
Fizemos planos. Disney, Grécia, Austrália (queria nadar com tubarões. Vai entender.), uma casa, dois gatos. Festas que só precisariam de nós dois, porque não precisávamos de mais ninguém. Bom, eu não precisava.
Dois anos passaram. A Amanda apareceu. Eles fizeram planos. Disney, Grécia, Austrália (ela também queria nadar com tubarões.), uma casa, dois gatos. Ele se abriu para ela. Ele dormia com ela, acordava cedo, mas só levantava bem tarde. Eles transavam. Ela amava Game Of Thrones. Era uma ótima cozinheira também. Eles faziam piadas de tudo e de todos. Inclusive de mim. Foi a história de amor perfeita. Só não era mais minha.