Tu é muito vintage
– Desliga essa vitrola, e abre o Spotify aí logo! – Um amigo me disse uma vez enquanto o disco arranhado comia um pedaço da música.
– Como você pode gostar desse treco? – Completou ele.
Sinceramente, até hoje eu não sei dizer. Sempre fui muito ligado as coisas que as pessoas hoje chamam de “vintage”. Talvez por que elas não tenham mais toda aquela pressão de serem perfeitas ou atingirem o melhor desempenho. Hoje elas podem ser simplesmente: Elas.
Sim, eu tenho uma vitrolinha e vários discos de vinil do Jack Johnson, e adoro o som chiado de surf music enquanto começo a trabalhar no meu computador (Por que ainda não tenho uma máquina de escrever). Eu também prefiro tirar fotos 35mm ou Polaroid. Não tem nada melhor do que não saber como a foto vai sair e justamente por isso tentar pegar o melhor ângulo, a melhor luz e torcer para que tudo dê certo (Sem saber como tudo vai se desenvolver mesmo depois de toda essa preocupação).
As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a rapidez, conveniência e perfeição. Mas por que? Tudo isso é balela. A experiência que você vive durante todas as suas ações é muito mais emblemática do que qualquer tempo economizado. Tempo perdido? Talvez… É tudo uma questão de ponto de vista.
Por que caralhos eu tenho que usar um iPhone 6, pra tirar fotos perfeitas quando eu não estou buscando a perfeição? Aliás, que porra de ideia mais fajuta! Se a perfeição existe, ela na verdade é uma consequência de uma série de coisas imperfeitas. Como eu e você. Me entende?
Então eu quero ouvir um som arranhado, tirar uma foto que leva 30 minutos pra ficar pronta, e admirar toda a falta de pressa e me isentar da responsabilidade que a perfeição traz.
É, eu devo ser muito vintage mesmo.
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.