Art Nouveau
Ela pintava como ninguém. Uma das coisas mais bonitas do meu final de semana era observá-la atenciosamente pincelando suas telas. Eu, quando deitado naquele sofá vermelho e desbotado, acreditava que aquela era a verdadeira obra de arte. Não suas pinturas, mas o momento em que ela sentava em seu banquinho e encarava seus quadros em branco, tornando-os alegorias coloridas.
Constantemente prendia seus cabelos para evitar que os sujasse de tinta. Mas eu, como eu gostava de seus cabelos soltos, sempre roubava os prendedores de sua cabeça e os prendia em meu pulso. Ela fazia piadas constantes sobre a coleção de “pulseiras” novas que eu havia começado.
Estava feliz que estávamos nos dando bem novamente. Afinal, visitá-la em seu sobrado velho na rua 8, era sempre um momento de deliciosa admiração.
O sorriso que abria a cada vez que eu sujava seu nariz com tinta acrílica, era o momento mais belo de todo ritual em seu trabalho. Ela sempre parava de pintar quando começávamos essas brincadeiras, que sempre acabavam na cama. Aliás, a cama era um dos locais que mais lhe trazia segurança. Era como pintar usando corpos, como fazer arte de forma privada, armazenando-a para sempre naquelas paredes brancas de um quartinho rústico. Seus quadris subiam e desciam em movimentos ritmados, exatamente como suas pinceladas, sua respiração e gemidos eram como as músicas francesas que tocavam ao rádio enquanto pintava. Aqueles cabelos que reluziam a luz em meu rosto, às vezes atrapalhando minha vista, eram como a primeira observação confusa de um quadro surrealista, que ia subitamente se revelando, conforme mais atenção você desse à obra.
De fato, naquela cama apertada, ela era a personificação do próprio ato de pintar uma obra de arte, e eu era o quadro. E ela sabia fazer arte como ninguém.
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.