Lado Bê
Eu sempre pensei que seria com você que eu dividiria na noite de um sábado um pacote de Doritos do tamanho de uma ração de cachorro (adulto, claro). Que pelo menos por alguns instantes esse seria o momento mais feliz da nossa noite até eu começar a te fazer cafunés e em seguida descer minha mão até um de seus seios e a gente começar ali, na sua cama cheia de farelos.
Pensava que a gente ia mesmo assistir todas aquelas séries que combinamos de ver juntos, até o último episódio de cada uma delas. Mesmo que umas não me agradassem, e outras não fossem o seu estilo, eu acreditei que conseguiríamos.
Eu tive certeza, ainda que por um momento que a sua promessa de me receber com uma placa “365 dias sem mudar de opinião” iria mesmo se realizar e quando eu voltasse, você estaria ali da mesma forma, esperando pra gente ir comer um medalhão com aquele seu arroz à piamontese que dá uma surra no La Mole.
Cada vez que eu respirava ar puro eu sabia que iríamos voltar à Petrópolis, naquela mesma pousada, mas iríamos fazer valer a pena aquela cama de casal confortável como nunca antes. Assim aquela cidade faria você esquecer de tudo o que te fez mal enquanto eu e você ficamos longe um do outro, mas também me faria esquecer o tempo que a gente teve que ficar longe um do outro.
Sua jóia verde seria a primeira de muitas outras histórias e símbolos que a gente iria criar um para o outro e eu faria questão de que você me contasse tudo sobre o meu signo de touro, meu ascendente, descendente, mapa astral, inferno astral, mas meu astral seria baseado em você.
Também posso dizer que com clareza, eu vi aquela cerimônia sendo realizada num campo lindo, muitos convidados, você de branco, estonteante, tirando o meu fôlego e me fazendo voltar a ser aquele moleque de dezessete anos que perdia a fala ao te ver. E claro, Jack Johnson e Maroon 5 tocariam nessa festa.
A gente compraria o primeiro apartamento, nos apertos. Eu ia aprender que planejar é necessário e você, que rir é o melhor remédio pra tudo. E mesmo nas diferenças e nas brigas a gente seria a dupla que a gente sempre foi. Afinal, quem mais teria um toca discos e uma geladeira vermelha num apartamento pra dois? Só a gente. E assim, a gente ia ter que se mudar logo, por que o Pedro estaria a caminho (Pedro, não Goku). Você ficaria feliz e eu homenagearia o cara mais inteligente e problemático da minha vida, o avô dele.
Alguns anos se passariam e você e eu teríamos o Pedro, o Bernardo a Laura e um labrador e a nossa família estaria completa: Ohana, lembra? Você ia amar ter uma replica hiperativa minha e eu adoraria cuidar de uma mini manhosa igual você.
E nós seríamos o casal de pais mais divertidos de todos os tempos! Tadinho dos três se não fossem as vovós deles.
Pena que isso não vai acontecer, porque nossa dinâmica é sempre a mesma. Você vem, reaparece como se tivesse se despedido ontem, vira meu mundo de ponta cabeça, vai sorrateiramente demolindo cada parede de defesa emocional, até não sobrar mais nada. Você me enche de felicidade e trás cor de volta para esse futuro que eu escrevi aqui. Mas na primeira oportunidade de fugir de tudo, você não pensa duas vezes e me deixa só. Limpando cada memória que pichamos juntos na parede da minha mente, erguendo os muros pra me defender de você, tentando esquecer que você existe e assim me livrar da maior felicidade do meu mundo. Até você aparecer novamente.
Foto: Westelm
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.