Aquele aperto dentro do peito / Carta à Lia Janick

 

Aquele aperto dentro do peito / Carta à Lia Janick

 Hoje, se eu tinha a mais remota certeza de que o amor é real, já não tenho mais. E digo isso, pois tive uma sensação subitamente dolorosa, que não sentia há alguns anos atrás. Uma dor que aperta o peito, que dá calafrios à sua pele, e seca sua garganta. Tudo isso em menos de um segundo.

 Sabe quando gostamos tanto de alguém, que mesmo após nos separarmos, ainda levamos um pedaço dessa pessoa? Mesmo após meses, anos, ela ainda continua mexendo com a nossa cabeça? Assim era a Lia.

 Lia era a garota mais sensivelmente grosseira e estupidamente romântica que você podia conhecer. E sim. Eu era idiotamente apaixonado por ela, e isso consumia lentamente a minha alma. Principalmente pelo fato de que não era recíproco, e após terminarmos, eu que senti saudade.

 Lia e eu mantínhamos a amizade pela internet, conversávamos quase que diariamente, trocávamos sugestões de filmes, mas era só isso. E confesso que me incomodava quando ela tentava me dar dicas ou conselhos amorosos, me incentivar a pegar outras garotas e esse tipo de coisa. Claro, eu ainda era meio abobalhado por ela.

 O problema era quando Lia tirava fotos com outros caras. Ou pior! Era quando eu via essas fotos, e sem saber o que fazer, somente ficava estático observando por dois ou três segundos a tênue expressão de felicidade em seu rosto colado no rosto de outro cara, que estava igualmente feliz. Não que eu quisesse acabar com a felicidade de ninguém, sabe? Mas nesse tempinho de dois segundos, que em minha mente pareciam 20 minutos, eu ficava me perguntando onde estava o meu sorriso, a minha felicidade.

 Eu sei que não quero mais ver hashtags elogiando o #gatinho com o #sorrisomaisbonito, ou o que aconteceu #ontemànoite, ou melhor: Eu não quero mais isso, esse aperto no peito que seca minha garganta. Deus me livre! Eu não quero mais gastar dois segundos da minha vida olhando para vida de alguém que não quer olhar pra minha. Definitivamente eu não quero mais esse aperto, eu não quero mais dor, nem em milésimos.

Eu não quero mais, Lia.

Foto: Crescendo means to glow