Tübinger

Hoje eu passei em frente do nosso antigo apartamento na Tübinger Straße. De vez em quando eu passo em frente, não sei explicar exatamente o porquê. Talvez por nostalgia, saudade, não sei. Também não ajuda o fato do meu novo escritório ser literalmente do lado, eu acho.


Eu fui muito feliz naquele apartamento que parecia de novela. Chega a ser ridículo de pensar o quanto eu reclamava dele. O quarto era muito pequeno, o sofá não ficava de frente pra tv, não tinha porão pra guardar tralha… A verdade é que hoje todas as reclamações parecem tão pequenas quando comparadas as memórias que eu construí naquele lugar. A maioria delas muito boa, e algumas outras muito ruins. Como quando o banheiro alagava por conta do desnível do box e agua escorria por onde não deveria, ou quando adolescentes decidiram em dar a maior e mais barulhenta festa depois das 23:00 um dia antes da nossa viagem pra Vienna.

A verdade é que de vez em quando bate saudade do cheiro da comida, das suas panquecas, do churrasco na varanda, de quando fazíamos mexicano, bávaro, grego, japonês, de ver os vídeos mais idiotas e conversar sobre absolutamente tudo. Mas eu sei que é só saudade. Não de você, exatamente. Mas do tempo que eu dividi com você nesse planeta, nesse país, dentro desse apartamento… Mesmo sabendo que tempo que passamos juntos naquele apartamento já é menor do que separados, fora dele.

Mas hoje eu passei em frente do nosso antigo apartamento. E eu pude ver uma bandeira do Brasil na varanda. Acho que nossos sucessores também são nossos conterrâneos, talvez da mesma cidade, ou da mesma zona da cidade, quem sabe? 

Talvez eles sejam tão felizes quanto como fui na Tübinger Straße.

Mas duvido que eles teriam tanta saudade. Ninguém teria tanta saudade.