Faz de conta
Faz de conta que nunca me esqueceu, que nunca me ignorou, que nunca me apunhalou por trás. É simples, é só ignorar completamente o que passou e fazer de conta que nada antes de hoje existiu.
Que tal fazermos de conta, que a gente sempre se importou com o outro igualmente? Ou então, que eu realmente mereci tudo o que aconteceu. A gente também pode fazer de conta que é normal retomar contato depois de tanto tempo sem nenhum “olá”, por mais seco que seja. Fingimos que nada entre nós foi alguma vez, ainda que de forma mínima, abalado e assim a gente pode continuar de onde parou. Podemos? Claro que podemos. É só fazer de conta.
A gente pode fazer de conta que é normal mudar de ideia sobre amor por alguém, como se muda de ideia sobre o a cobertura do sorvete. Aliás, façamos de conta que amor é igual sorvete! Você aproveita o começo doce, continua a deliciar e antes do meio, você enjoa e diz que não quer mais. Daí é só empurrar o sorvete pro lado e quem sabe pegar algo diferente. Simples como faz de conta!
Faz de conta que eu sou você e que você sou eu. Faz de conta que você nunca sentiria o que eu senti, porquê eu devo ser muito idiota mesmo. Você nunca ficaria tão pra baixo com o que aconteceu se fosse eu. Se ficaria, é só fazer de conta que não.
Que tal você fazer de conta também que o meu fígado nunca foi sequer afetado pela quantidade de porres que eu tomei revisitando minhas memórias e tentando entender o que fez você agir assim. Faz de conta que não foi uma, duas ou três. Faz de conta que aquelas garrafas de cerveja nunca foram produzidas. Se você fizer, elas não serão.
Você sempre fez de conta que eu e você iríamos ficar juntos pra sempre. Se você não fez de conta, então você fez de conta que eu nunca ia me magoar, caso não ficássemos.
A questão é que você sempre me fez viver nesse faz de contas mutante. Tudo muda, nada continua igual, mesmo sendo uma completa ilusão do que você planeja, ou deixa de planejar.
Quer saber? Eu odeio faz de conta.
Por mim você pode fazer de conta na puta que pariu.
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.