– Acorda, você vai se atrasar – disse você com aquela voz doce de todas as manhãs.
Desliguei o despertador e fui ao banheiro escovar os dentes. Tomei banho, vesti a roupa e você tava na cozinha, a luz da janela que adentrava o apartamento refletia no seu cabelo. Eu fiquei imóvel te olhando fazer o café.
– Que foi? Parece que nunca me viu – E você realmente estava certa. Eu fui dormir sozinho e acordei com você aqui, assim, do nada. Todos o meu delírio em ter você aqui comigo parecem ter sido realizados. Estranho, eu tinha certeza que tinha ido me deitar sozinho.
O cheio das panquecas perfumavam a cozinha e ainda que eu estivesse atrasado eu ficaria mais algumas horas. Tentei roubar uma e levei logo um tapa na mão.
– Oi?! Tá doido? Você sabe que a gente põe a mesa na sala. Nada de roubar as panquecas. Elas não tão prontas ainda. – Eu olhei pra você e tudo parecia tão surreal. Você gargalhou e eu me senti em casa. Não é possível que eu estivesse delirando. Você tava ali, comigo.
Eu fui trabalhar, e o dia passou mais devagar do que em toda a minha carreira. Eu jurava que tinha vivido seis meses em um dia de trabalho. Todas a reuniões pareciam durar o equivalente a uma partida de futebol, com acréscimo. Mas enfim, tinha acabado. Eu corri pra pegar o metrô
Cheguei em casa, e você ainda tava lá. A semana acabava e o nosso tempo junto ia começar, finalmente, né? Abrimos um vinho, fizemos o seu famoso strogonoff e sentamos pra ver uma série. – Eu tô muito feliz, sabia? De estar aqui contigo. – me dizia você com os seus olhos mais sinceros do que qualquer outra coisa. – Eu também, respondi.– Concordando com você, pois apesar de surpreso, eu estava realmente feliz.
Depois do vinho, meus olhos foram ficando pesados e a imagem da televisão meio turva.
Acordei no susto, olhei o relógio, 2:30 da manhã. Na mesa do sofá, uma taça de vinho, um e pacote de batatinhas amassadas. O Netflix perguntava se ainda tinha alguém aí, e além de mim, eu não sabia dizer. Onde estava você? Procurei o apartamento inteiro, mas não te encontrei.
Você não tinha ido embora. Você não tinha nem vindo.
Eu realmente tinha ido dormir sozinho. E por algumas horas, eu estava tão feliz.
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.