Lago Di Garda
Era um dia um tanto quanto nublado no Lago di Garda. Minha primeira vez na Itália, e por enquanto, a única. Eu não podia deixar de me aventurar a pular do barco que alugamos e descobrir como era nadar em um lago que mais parecia um oceano.
Ao pular do barco, foi como se mil facas entrassem na minha pele de uma vez só. Porra, como era frio! Eu estava acostumado com os lagos da Baviera, mas aquela temperatura estava em um outro nível.
– Eu vou entrar também! – disse meu amigo indiano, que fazia aulas de natação pelos últimos seis meses, na esperança de aprender a nadar.
Eu o incentivei, claro. Depois de tanto tempo e com essa convicção ele já deveria nadar um pouco. Aliás, todos no barco o incentivaram.
Eu já estava distante do barco quando ele pulou. Estava mergulhando, mas barulho de seu corpo caindo foi tão alto que pude ouvir ainda submerso. Quando emergi, o barulho havia se transformado em gritos e berros vindo do barco. Quando olhei para cima, todos no barco me gritavam – Ajuda ele!! –
Pude ver Raj desesperado, apenas um corpo dessincronizado lutando para sobreviver em um lago tão profundo e tão gelado, que parecia te sugar para baixo.
Ora, eu nunca havia salvado alguém de um afogamento, mas eu precisava ajudar meu amigo. Grande engano. Nesse tipo de situação o seu amigo não está raciocinando e não vai hesitar em te matar pra tentar sobreviver. E foi o que ele fez.
Fui puxado com toda a força para baixo por um indivíduo completamente desesperado tentando me usar como bóia. Eu não podia me desesperar, afinal, morreríamos os dois. Ele segurava forte a minha cabeça.
A solução foi submergir e emergir revezando oxigênio. Isso me deu fôlego extra, mas ele não me largava.
Submergi novamente e dei dois socos na sua costela. Ele me soltou. Jogaram coletes salva vidas do barco e eu o levei até um deles e depois dele estar salvo, eu estava completamente exausto. Só me restava boiar até recuperar o fôlego.
Numa situação dessas, seu amigo vai te matar. Ainda bem que ele não conseguiu, pois eu era sua melhor chance de sobrevivência.
Ele pede desculpas até hoje e disse que todo o episódio pareceu apenas um segundo pra ele.
Já pra mim, pareceu uma hora inteira.
Photo: @marcst84 at Unsplash.com
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.