Multiverso

Multiverso

 É… Parece que não foi nesse universo. Não foi essa minha versão de mim mesmo que se deu bem e conseguiu fazer você se apaixonar. Mas eu acredito que em alguma das versões do multiverso, você não conseguiu me tirar da sua cabeça.

 Na versão mais próxima ao nosso universo, naquele dia da festa, eu não desisti de ficar até de madrugada com meus amigos pra ir embora com você e isso só te fez ficar puta comigo. Mas no dia seguinte a gente se acertou. Passeamos e tudo deu certo. 

 No dia em que você colocou na sua cabeça que iria lá em casa terminar comigo, você viu uma amiga ligar pra mim, ficou furiosa, mas depois nos acertamos. Nós não terminamos ali. 

 Nós passamos dois anos juntos e depois fomos forçados a nos separar. Seu horário ficou complicado depois do estágio naquela redação e eu fui morar no Canadá por mais dois anos. Você chorou muito, mas eu tentei ser forte. Nesse meio tempo, você se formou em jornalismo e eu em engenharia. Nós já não nos falávamos mais e eu não estava muito feliz com as minhas escolhas profissionais. Então pedi as contas e voltei pro Brasil, me dediquei a fotografia e depois de vender algumas fotos pra esse ou aquele jornal, eu entrei na redação do seu. Foi um baque forte te ver depois de tanto tempo. Você cortou o cabelo Chanel e estava usando franja. (Você sempre me disse que nunca iria usar franja porque tinha o rosto redondo demais. Mas aparentemente, essa sua versão sabia que ia ficar linda com esse corte.) 

 O chefe daquele jornal era bem mau humorado, queria comprar todas as minhas fotos por uma micharia. 

 – Escuta aqui, garoto. A melhor coisa que você pode fazer é me vender. Ninguém no mercado vai te pagar melhor do que eu. 

 O telefone tocou e ele mandou chamar a Diretora do editorial e eu nem fazia ideia quem era a “Diretora do editorial”, mas deveria ser alguém mais casca grossa que ele.

 E adivinha quem entrou por aquela porta? Você. (E eu sabia que estava lascado, pois precisava pagar o aluguel. Mas ao olhar nos seus olhos eu já sabia que eu ia acabar dando todas aquelas fotos de presente). 

 – O garoto não quer vender as fotos. O que a gente faz?

 Você virou pro seu chefe e disse – O Diogo tem um portfolio muito bom. Ele é bem conhecido no mercado editorial e se você não comprar essas fotos pelo preço que ele quer. O colunista do Semana vai acabar querendo.

 Porra, você tinha me ganhado outra vez. Eu tava te devendo essa e você sabia, né? Como eu poderia não gostar de você naquele universo? Eu acho que em todos os universos, tudo na minha vida poderia mudar, mas não o fato de gostar de você.

 Depois daquele episódio, você me levou pra um café em Botafogo, trocamos aquele papo por horas. E na saída, você me beijou. Me beijou como da primeira vez. (Eu fiquei estático.) 

 Passaram-se alguns meses e a gente tinha voltado, como a gente sempre voltava (No nosso universo). Engraçado, como essa versão de você não era uma constante incógnita pra mim. Ela, quando criança cresceu assistindo filmes da Disney como toda criança. Nunca foi forçada a decidir nada muito cedo. Como resultado, ela cresceu nessa versão de você que realmente sabe quando se apaixona por alguém. Aquela chama que você tem no olhar, no dela não apagava. (Nunca apagou.) E sempre que ela me via, a versão correspondente de mim mesmo, podia ver no reflexo do olhar dela. Assim como eu via no seu. Porém, era constante, sem dúvidas.

 Ela riu quando eu contei pra ela que o curso de engenharia era uma droga e que eu vivia completamente frustrado com Cálculo e Física III. Dizia que ela nunca poderia lidar com cálculo e física. (Mal sabe ela que você lidou com isso durante muito tempo.) Ela me apresentou Bukowski, um escritor que nesse universo daqui, fui eu que te apresentei.

 Contei que adorava fotografar 35mm e ela disse que eu deveria expor minhas fotografias numa galeria, que ela conhecia o dono de uma galeria em SP e que a gente poderia ir pra lá durante uma semana pra eu expor meu trabalho.  Não preciso mencionar que a exposição foi um sucesso, e o eu do outro universo, fui convidado pra mostrar meu trabalho em Madrid, Milão e Berlim. Ela me acompanhou em todas. (Ficava acordada até tarde trabalhando remotamente pra redação dos hotéis).

 Passaram anos, casamos, moramos junto, brigamos, tivemos dois meninos e uma menina. Engraçado que você sugeriu os mesmos nomes. Isso não mudou. Assim como você também não tinha mudado. Certo, algumas coisas mudaram, mas você continuava linda e eu perdidamente apaixonado por você. Desde que o eu daquele universo voltou com você daquele universo, eles nunca se separaram. 

 E eu fico me perguntando, porquê não nesse universo?