Voz doce
-Ei Diogo, o que vai querer? – Perguntou Carlos, o barista daquele boteco.
-Eu venho aqui já faz 3 dias seguidos e sempre peço o mesmo. Você pode repetir sempre que eu vier. –
Serviu me um chopp gelado de Antarctica. E fui para uma mesa vazia.
Poucos minutos depois, pude ver de relance pelos vitrais daquele recanto social, um vulto ruivo de uma mulher alta, provida de curvas e muito bem vestida.
Ela entrou naquele bar, aquele pulgueiro. Todos olharam pra ela, pois como sempre, pareciam nunca ter visto uma mulher bonita nesse tipo de recanto de animais sedentos. Cá estava eu, sentado na mesa, solitário, rabiscando uns guardanapos e com uma cerveja do lado, como sempre.
Ela não parecia ser o tipo de pessoa que iria voltar ali. Olhe pra mim: Um derrotado, mal trapilho, com umas poucas pratas no bolso, mas dificilmente voltava no mesmo bar após uma semana. Esse era meu prazo. Conversava, ouvia, fazia amizade com o dono do bar, mas depois sumia. Afinal, eu buscava boas histórias. Ideia incompatível com cair na rotina, ou repetir hábitos que não te acrescentam em nada.
-Uma margarita, por favor- Ouvi um canto doce no meio de música suja e alta que soava do rádio de pilha do barista.
Imediatamente desviei meu olhar pra ela, que havia sentado no bar.
Engraçado como sua forma não chamara minha atenção. Vejo infinitas mulheres bonitas por aí, vejo pessoas por aí brigando pra se tornarem mais bonitas, que perda de tempo! Mas aquela voz? Tinha algo naquelas vibrações de cordas vocais que mais pareciam o som de uma melodia clássica.
Mas eu sabia, que nunca mais iria escutá-la, como todas as outras que passaram por mim. Após acabar sua margarita, ela levantou e foi encontrar sua amiga que dirigia um Corvette antigo.
E assim, nunca mais eu pude escutar aquela voz melódica, mas meu guardanapo guardava um desenho daquela moça, aquela moça da voz doce que eu nunca saberei quem era.
Foto: Marty Coleman | Napkindad.com
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.