A garota de Nova Iorque.
Era muito jovem quando viajei pela primeira vez à “Grande Maçã”, Nova Iorque. Fui para estudar devido a um intercâmbio do meu curso.
Uma cidade incrivelmente movimentada onde ninguém tinha tempo pra nada, todo mundo vivia correndo pra lá e pra cá e quase não olhavam um na cara do outro. Não era o ambiente mais fácil de conseguir um contato intímo com outra pessoa. Pelo menos não durante o dia.
E lá estava eu no lobby da Parsons University, onde normalmente levava um café e meu MacBook pra ficar trabalhando em alguns projetos, quando vi a beleza mais incrível que meus olhos já haviam presenciado.
Tinha cabelos loiros e longos, olhos azuis e uma boca rosada e carnuda que chamava minha atenção de longe! Uns peitos em pé e redondinhos, pareciam ser silicone. Assim que ela passou, sentou-se no lobby e pegou o celular pra fazer uma ligação. Parecia estar muito brava com alguém, pois mesmo falando baixo, discutia sem parar.
Largou o celular no colo, olhou pra um lado e para o outro lentamente e encarou-me fixamente enquanto eu prestava atenção pra tela do computador, mas percebi seu olhar em mim, pois em seguida ouvi:
– O que você tá fazendo aí? São 23h.- Disse ela com um sorriso debochado.
– Estou trabalhando num projeto.
– E você gosta de trabalhar numa sexta feira à noite, no lobby da faculdade?
– Sim. Normalmente eu não sou muito incomodado aqui. – Soei um tanto grosseiro.
– Oh, me desculpe. Não queria atrapalhar você.
– Não… Desculpe. Não quis ser grosso. É que, não tenho programa pra hoje.
Ela abaixou a cabeça e logo em seguida levantou com um suspiro.
– É, nem eu. Pelo menos não mais. Minhas amigas furaram comigo.
– Putz… Que pena hein. – Falei com ela mais atento ao meu projeto do que ao assunto.
– Ei! Você nem está prestando atenção em mim! E olha que eu reparei nos seus olhos quando passei. – Me olhou dos pés a cabeça. –
– Eu não, err…
– Calma cara! Não é crime olhar pros peitos de ninguém. – Disse ela caçoando de mim.
– Já que eu perdi meu programa, você quer assistir algum filme comigo?
– Olha, eu aceitaria. Estamos numa cidade que nunca dorme, mas… Não estou afim de ir ao cinema agora. – Falei meio cansado.
– E quem falou em cinema? Eu estou morando num flat na 5ª Avenida. A gente podia ir pra lá, via alguns filmes e bebia algumas cervejas.
Eu aceitei.
Pegamos um táxi e fomos do prédio da Parsons até a 5ª. E como estava tarde, chegamos em meia hora. Ela morava na rua 84, era bem bonito. O prédio tinha uma arquitetura antiga, e poucos andares. Seu apartamento era no quarto andar e como o prédio não tinha elevador, tivemos que subir a pé.
Quando entramos ela perguntou se eu queria uma cerveja, e claro que eu aceitei, apesar de preferir Heinekens, tomei Pabst como se fosse a melhor cerveja do mundo. Ao sentarmos na sala reparei em algo curioso. Não havia TV alguma, mas preferi não perguntar nada sobre isso.
– Você não é americano né? – Perguntou ela curiosa.
– Não, por quê? Sotaque muito diferente? – Indaguei.
– Nem é isso. Você não tem cara de yankee.
– Sério? De onde eu sou, dizem que sou bem americano.
– Haha, e de onde você é?
– Brasil.
– Bem que eu percebi. Você tem uma coisa diferente dos caras daqui.
– Como assim? – Perguntei, após mais uma golada na cerveja que estava muito gelada.
– Não sei, mas eu não costumo chamar caras pra vir aqui. – Ela riu.
– Então porquê eu?
Ela mexeu nos cabelos e tirou a blusa, jogou ela pra trás do sofá e só de sutiã, deu mais uma golada longa na garrafa de cerveja.
– Não sei. Me diz você, brasileiro.
– Eu acho que não foi pra assistir filmes, porque não vi TV alguma. – Falei rindo.
Como já tinha acabado a cerveja, a coloquei em cima da mesa de centro. Ela fez o mesmo logo em seguida.
Ela levantou e foi indo buscar outras cervejas e voltando calmamente dizendo:
– Tem uma TV no quarto, de frente pra minha cama. Mas não te chamei pra ver filme mesmo.
Ela abriu as duas cervejas, me deu uma e foi sentando no meu colo.
– Mas a cama está de pé, se você quiser testar. – Falou no meu ouvido.
Eu bebi metade da minha cerveja em um gole só. Levantei ela no colo e fomos para o quarto. A porta já estava aberta, assim joguei ela na cama e tirei o blusão que eu estava vestindo.
Na cama ela não cansava. E eu, apesar do fôlego bom, estava virado da noite anterior. Então nós apagamos depois de algumas horas.
Acordei com o raiar do sol de Nova York na minha cara. Diferente do Brasil, tudo era meio cinza e acho que isso me fez sair da cama com mais facilidade. Logo em seguida, vesti a roupa e fui pra cozinha, peguei uma garrafa d’água e me servi um copo. Ao que parecia, não tinha ninguém em casa.
Andei até a sala e tinha um bilhete na mesa:
-Tive que ir encontrar meus pais! Por favor, tranque a porta e coloque a chave embaixo do vasinho de plantas. Beijos, Amy. –
– Então esse é o nome dela, Amy. –
Depois disso, me dei conta que ela não sabia o meu nome ainda. E não tinha o telefone dela. Então decidi anotar o meu e deixar junto do bilhete dela.
-Adorei o tempo que passei contigo. Beijos, Diogo.
912-559-9568.-
Saí, tranquei a porta e coloquei a chave embaixo do vaso como ela havia pedido e fui pro meu dormitório. Eu tinha que terminar uns trabalhos naquele dia. Então resolvi pegar o metrô até a Parsons.
Passei o dia esperando a ligação de Amy. E o dia seguinte, e o outro após este, e o outro, e o outro, até completar uma semana. E era óbvio que ela não queria mais nada comigo, mas mesmo assim eu precisava vê-la novamente pra pelo menos dizer o meu nome pessoalmente.
Na sexta feira daquela semana, saí da Parsons no fim da tarde, peguei um táxi e cheguei na rua dela as cinco em ponto. Havia um caminhão enorme e estava um entra e sai danado do prédio. Então eu pedi licença a algumas pessoas e fui subindo até o quinto andar, como da primeira vez.
A porta estava aberta. Na sala, só havia algumas cadeiras, muitas caixas e a mesa de centro, com os dois bilhetes que deixamos. Eu peguei ambos e desci até o caminhão da mudança.
Tinham dois caras ajeitando as caixas, e logo resolvi perguntar.
– Oi, é que a inquilina desse prédio é uma amiga e eu queria saber pra onde ela tá se mudando. Eu perdi o número dela e não tive tempo de pegar o novo. –
Um dos caras olhou com uma cara meio triste para o outro e virou pra mim.
-Você não soube? Ela faleceu. Morreu atropelada perto da Times Square no início dessa semana. Parece que o motorista tava bêbado e jogou o carro na calçada. A família que solicitou a retirada da mobília. –
Eu quase deixei algumas lágrimas caírem. Não pude fazer mais do que suspirar, agradecer a eles e ir embora.
A garota de Nova Iorque que tinha alegremente melhorado minha sexta feira insossa e sem graça, tinha ido embora da minha vida na outra sexta, sem ao menos ouvir meu nome.
Ecleticamente boêmio e desesperadamente romântico. Cada pé na bunda rende mil cervejas e alguns poemas.